REVISTA ROJAVA - YPG/YPJ
crônicas ordinárias do fronte
REVISTACOMANDO (2016)
APRESENTAÇÃO
Este é o número zero (e único) da Revista Rojava,
impressa em xilogravura e serigrafia em novembro de 2016.
Além de um breve panorama sobre Rojava, este número traz a tradução das Crônicas Ordinárias do Fronte, os diários de dois combatentes estrangeiros que se juntaram às milícias curdas YPG/YPJ no início de 2016. Originalmente publicados como posts na internet, estes relatos têm caráter tanto documental como literário. Tratam dos conflitos cotidianos na defesa de uma territorialidade que se estabelece como o outro possível em meio à guerra de colapso mundial em curso na Síria desde 2011. Ao explicitarem no plano do vivido as contradições implicadas no processo, revelam o tédio e a tragédia da guerra enfrentada como vida cotidiana.
A narrativa parte tanto da perspectiva de estranhamento do olhar estrangeiro, quanto da familiaridade com o modo de vida militar: C.C. e D.I., os autores e personagens dessa saga, são originariamente proletários brutos vindos de um dos maiores exércitos de mercenários do mundo, que se juntaram às forças curdas por profissão, mas também certa excitação com o cenário. Registram dia a dia, em foto e texto, o quê de poético pode aflorar a cada momento, mas sem idealizar o contexto e nem romantizar a realidade que se impõe sob a barbárie. Assim, seja Rojava vista, de dentro ou de fora, como movimento de resistência popular, luta de autodefesa, ou mesmo processo revolucionário... o que essas narrativas mostram são os modos como operam as necessidades radicais na organização deste território, declarado autônomo enquanto autogestão da sobrevivência em múltiplas escalas.
Por fim, esta REVISTACOMANDO ainda imprime cenas de combate protagonizadas por mulheres, estetiza a guerrilha nas montanhas, transforma a guerra em objeto de fruição alhures. Como tudo o que toma corpo nesse mundo, só pôde se realizar sob a forma de mercadoria. Uma pequena produção gráfica, valorizada pelo fetiche do trampo “autônomo”, que no limite da forma não passa de mais um modo precário que encontramos de produzir algo em meio à crise geral do trabalho. Quando, via venda (D-M-D’), a revista Rojava voltar a se tornar dinheiro, parte da grana investida será devidamente desviada em direção à conta dos autores no fronte, dada a divisão do trabalho realmente implicada nesta produção. Mais pralém das determinações materialistas, tem também a importância de fazer circular este conteúdo: como tentativa de ampliação do nosso pertencimento histórico a esta época, mirando em tempo ao epicentro das atuais guerras de reordenamento mundial. Parece haver, afinal, alguma relevância em revelar a violência que avança escamoteada pelo termo cínico de “crise global”: já é hora de atualizar o status quo de crise para colapso, sem deixar de reiterar a revolução no campo das representações.
Por isso pode ser que esta revista pareça ser propaganda. Que seja, sendo ainda outras coisas.
Comissão Editorial da Revista Rojava
novembro de 2016
xilogravuras : REVISTACOMANDO
tradução : Rach Pach
projeto gráfico : Helena Lima
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